Banca de Defesa: Lorene Gonçalves Coelho

Estresse ocupacional, padrão alimentar e fatores de risco cardiovascular em trabalhadores de um hospital privado do Recôncavo da Bahia: um estudo antes e durante a pandemia da COVID-19
 
Introdução: O trabalho no ambiente hospitalar é conhecido por apresentar características insalubres que repercutem na saúde de seus trabalhadores, e que atualmente tem se intensificado devido à pandemia da COVID-19. Objetivo: Investigar a associação entre estresse ocupacional, padrão alimentar e fatores de risco cardiovascular em trabalhadores de um hospital privado do Recôncavo da Bahia, considerando o contexto da pandemia da COVID-19. Métodos: Este trabalho é composto por três diferentes estudos. O Estudo 1 é uma revisão de literatura realizada por meio de buscas nas bases de dados PUBMED, WEB OF SCIENCE, EMBASE, SCOPUS, CINAHL, PSCYINFO e LILACS, de julho a outubro de 2020, e atualizada em outubro de 2021. Estudos observacionais que avaliaram o estresse ocupacional como exposição por meio do Job Content Questionnaire (JCQ), e que investigaram sua influência na saúde do trabalhador foram incluídos, independente do ano de publicação. O risco de viés dos estudos incluídos foi avaliado por meio do Research Triangle Institute Item Bank on Risk of Bias and Precision of Observational Studies. Os Estudos 2 e 3 são longitudinais conduzidos com 218 trabalhadores maiores de 18 anos de um hospital privado do Recôncavo da Bahia. Um questionário semiestruturado foi utilizado para a coleta de dados sociodemográficos, ocupacionais, antropométricos, dietéticos e de estilo de vida e saúde. A exposição principal dos Estudos 2 e 3 foi o estresse ocupacional avaliado por meio do JCQ e classificado de acordo com o Modelo Demanda-Controle; as exposições adicionais foram outras características ocupacionais tidas como estressores do trabalho. Os desfechos do Estudo 2 foram estado nutricional, segundo Índice de Massa Corporal (IMC), Circunferência da Cintura (CC) e Percentual de Gordura Corporal (PGC), percepção da própria saúde e fatores de risco cardiovascular. Já os desfechos do Estudo 3 foram os padrões alimentares identificados por meio da análise fatorial. As análises estatísticas do Estudo 2 incluíram os testes de qui-quadrado de McNemar e Wilcoxon, bem como modelos de regressão logística binomial; já as do Estudo 3 incluíram o teste de qui-quadrado de McNemar e modelos de Equação de Estimação Generalizada. Resultados: Estudo 1 - Para a análise qualitativa, a estratégia de busca reteve 42 estudos, incluindo 182187 participantes. Entre os estudos selecionados, a influência do estresse ocupacional foi examinada nas doenças cardiovasculares (DCV) (n=10), como resultado primário, e na síndrome metabólica (SM) (n=5), dislipidemias (n=15) e obesidade (n=22), como resultados adicionais. Evidências sistematizadas mostraram que altos níveis de estresse ocupacional parecem estar associados a DCV e SM. No entanto, sua influência nas dislipidemias e na obesidade permanece incerta. Meta-análises dessas condições clínicas mostraram associações significativas entre estresse ocupacional e DCV (OR 1,34; IC 95% 1,15-1,57) e SM (OR 2,75, IC95% 1,97-3,83), mas nenhum efeito significativo entre estresse no trabalho e dislipidemias e obesidade. Estudo 2 - Durante a pandemia da COVID-19, houve aumento nas taxas de alto nível de estresse ocupacional, obesidade (segundo IMC, CC e PGC), autopercepção de saúde regular ou ruim e presença de fatores de risco cardiovascular, em comparação com o período anterior à pandemia. Não foi observada associação entre a mudança no estresse ocupacional e nos desfechos de saúde. No entanto, o aumento do trabalho em turno foi relacionado ao aumento do IMC na amostra geral (OR 3,79, IC95% 1,40-10,30) e nos profissionais de saúde (OR 11,56; IC95% 2,57-52,00). Estudo 3 - Durante a pandemia, os trabalhadores relataram aumento do estresse ocupacional, do trabalho em turno e da carga horária de trabalho semanal, em comparação com antes da pandemia. Além disso, foram identificados três padrões alimentares em ambos os momentos. Não foi observada associação entre mudanças no estresse ocupacional e padrões alimentares. No entanto, a contaminação dos trabalhadores pela COVID-19 foi relacionada às alterações do padrão A (0,647, IC95%0,044; 1,241, p=0,036) e o aumento do trabalho em turno foi relacionado às alterações do padrão B (0,612, IC95%0,016; 1,207, p=0,044). Conclusões: Os achados do Estudo 1 demonstraram um efeito adverso do estresse ocupacional sobre as DCV e a SM. Entretanto, ao considerar os Estudos 2 e 3, não foi observada associação entre estresse no trabalho e os desfechos de saúde estudados; sendo observado apenas associação entre os estressores do trabalho hospitalar, o aumento do IMC e as alterações dos padrões alimentares A e B dos trabalhadores. Estas evidências podem auxiliar o fortalecimento de políticas trabalhistas para garantir condições de trabalho e de saúde adequadas para os trabalhadores hospitalares no contexto da pandemia da COVID-19.
 
 
MEMBROS DA BANCA:
  • Externo à Instituição - ANA VLÁDIA BANDEIRA MOREIRA - UFJF
  • Externa à Instituição - KARIN ELEONORA SÁVIO DE OLIVEIRA - UnB
  • Interna - 3112241 - MARIA ESTER PEREIRA DA CONCEICAO MACHADO
  • Externa à Instituição - RAQUEL BRAZ ASSUNCAO BOTELHO - UnB
  • Externa à Instituição - RENATA PUPPIN ZANDONADI MAGALHÃES - UnB
  • Presidente - 134.645.744-15 - RITA DE CASSIA COELHO AKUTSU - UnB
 
Português, Brasil
Data da Defesa: 
segunda-feira, 28 Março, 2022 - 14:00